EM BUSCA DE ALIADOS (Encerrado)

[Resumo: Voltaire vai até Dumai Marak e pede a ajuda dela para lidar com a maldição que caiu sobre Ialanna, a filha de Ameline Silverleaf. Dumai recusa o pedido de ajuda.]






* Utilizando um antigo recurso disponível em seu crucifixo, mágica chamada "palavra da recordação", o paradeiro de Voltaire já era algum recanto da Cidadela. A conversa com Lei e Hatsuko tinha sido muito desagradável. E talvez a próxima pudesse ser tão desafiadora quanto a outra. Apenas pediu mentalmente auxílio divino, procurando seguir para fora do santuário secreto.

        Novamente preparado para seguir viagem e montado em outra águia gigante procurou alcançar o mais rápido possível a cabana de Dumai. Por mais que fosse demorar algumas horas, já pensava em diversas formas de abordagem: a elfa era temperamental e não havia como descobrir a melhor forma de iniciar alguma conversa. Imaginava reações, cenários e situações e por mais que procurasse equações e resultados finais, a interrogação aparecia entre a última alternativa. O suspiro foi longo, vendo que a situação não traria nenhuma resposta exata.

        Pousou próximo a cabana, observando o lugar por algum tempo. Caso não fosse notado chamaria pela elfa, uma ou duas vezes. Aquela altura o semblante apresentava algum desgaste. Dumai poderia se surpreender, pois o justiceiro tinha a aparência de alguém não mais de 30 anos.

        A  túnica negra e a cruz alva bordada chamavam a atenção. A capa escarlate fechava o aspecto sombrio, da indumentária. Carregava no pescoço o velho crucifixo de prata, com uma pedra vermelha incrustada. Como das outras vezes que se apresentava preparado para uma guerra, o corpo estava protegido por uma cota de malha, cor de prata, de fino acabamento e bem trabalhada: as proteções se prolongavam,  atingindo as pernas e braços. No peito ostentava as condecorações e medalhas adquiridas em detrimento aos serviços prestados aos Justiceiros Sagrados. O grande escudo de aço, com a simbologia dos justiceiros era evidente. Pela cintura repousava, pelo menos, uma espada larga, outra longa e uma maça-estrela de material desconhecido. Luvas grossas protegiam as mãos e permitiam segurar a poderosa lança de cavalaria, preenchida com runas e sinais enigmáticos. Os cabelos ruivos, aparados até a altura dos ombros, permaneciam agitados e levemente revirados: a barba e o cavanhaque eram impecáveis. Preso à sela de montaria um elmo grande, com runas em dourado.    

        Enquanto aguardava por alguma resposta acabava por se recordar de algumas situações e fatos envolvendo Dumai. Não sabia o que tinha acontecido direito com Victin e a coroa Deskraussiana. Embora de importância menor devido a gravidade dos problemas, ainda assim era alguma coisa a se preocupar.*

Ao observar o local, Voltaire consegue notar que, apesar de muito bem cuidado, ele se encontra deserto, ela parecia não estar por lá. A elfa, além de avistar a montaria voadora a uma boa distância, ouvira o homem chamá-la, porém não o responderia, até que chegasse mais perto, e talvez até mesmo o surpreendesse.

- O que faz aqui...?

Em um tom de voz manso, e um pouco frio, Dumai Marak surge por entre as árvores, mais afastada, logo atrás de Voltaire. Parecia coincidentemente estar retornando de alguma viagem, ou simplesmente o observava à distância. Se ela acabou de a chegar, ou apenas tinha escolhido fazer o homem esperar, não havia como saber. Ela trajava uma simples calça escura e justa, que destacava suavemente as curvas de seu corpo, uma blusa de seda branca transparente e leve, aberta até a cintura, mostrando assim uma outra blusa preta e justa por baixo, decotada. Seus cabelos ruivos e longos estavam perfeitamente presos em uma longa trança, jogada por cima de seu busto. Ela tinha um andar imponente e elegante, e carrega algumas adagas consigo.

*    O aspecto do lugar não deixava dúvidas: Dumai ou alguém próximo a elfa estava cuidando e deixando as coisas em ordem. Antes de desmontar chegou a observar a região de forma detalhada, porém sem encontrar nada.

     A caminhada o deixou próximo da entrada, mas não se atreveria a invadir o lugar. Chamou por várias vezes, sem sucesso.

     O olhar perdia-se em lembranças boas e ruins. Sequer se dava conta de que os cabelos e a capa seguiam furiosamente o ritmo caótico dos ventos.

     Quando desistiu e virou para partir ouviu a pergunta da elfa e sua aparição macabra. O coração gelou e a palidez de sua expressão deixava claro que havia levado um pavoroso susto. Precisou de alguns segundos, não só para se recompor, mas para poder iniciar suas  ponderações.

        - Saudações! Estou aqui com um objetivo: precisamos de teu auxílio. Todos nós, inclusive Aylin. O escolhido de Sammaster está para retornar. Ele devastará o reino. Preciso que venha comigo. Suas habilidades e boa vontade serão cruciais.

- Posteriormente poderemos conversar sobre a minha estadia aquele mosteiro no deserto e outras coisas, inclusive sobre Victin. Mas estou preocupado mesmo é com Sammaster, no momento. O tempo urge! Precisamos partir imediatamente...

    *Parou para observar melhor a elfa. Dumai podia perceber que Voltaire parecia ter não mais do que 30 anos humanos. Em outras palavras, tinha rejuvenescido de alguma forma ou aquilo não passava de algum tipo de ilusão.

Enquanto aguardava pelas colocações e observações da elfa acabou por lançar pesado suspiro, apresentando finalmente sinais de desgaste, parecendo cansado por já ter feito muitas coisas e talvez por ter experimentado situações emocionalmente degastantes. Algumas vezes as mãos coçavam os olhos ou retiravam os cabelos dos mesmos.*

Ao notar que Voltaire se assustou com sua aparição repentina, pôde-se notar um discreto sorriso no canto dos lábios da elfa. Olhando-o de cima a baixo, ela conseguia perceber que algo tinha mudado, afinal de contas, ela era uma das únicas pessoas que realmente conhecia aquele homem.

Dumai deixava-o falar sem interrupções, apenas continuando a caminhar até a porta de entrada de sua casa, abrindo-a e deixando-a desta maneira, para que ele entrasse também. Sem se incomodar muito com sua presença, ela tira uma das blusas que vestia, a mais larga, ficando apenas com uma blusa preta e mais apertada, que vestia por baixo.

- “Boa vontade”... – Ela ri de leve – Sabe ser direto, quando quer, Voltaire...

Ela então se senta, e começa a retirar suas botas, suspirando. Parecia um pouco cansada, quem sabe realmente não estava retornando de alguma viagem?

- Porém, não é esse o caso. – Percebeu que certamente haveria muito mais por trás dessa história, e mesmo assim decidiu não se aprofundar, somente então se levanta.

– Ailyn sabe se cuidar. E quanto a você...

Anda até ele lentamente, fitando-o fixamente. Não tinha um semblante ameaçador ou de raiva, porém, Dumai sabia que Voltaire nunca se sentiu confortável com esse tipo de aproximação, parecia fazer de propósito, até que então ela para.

- Não há nada que possa me oferecer.

Ele então nota um dos braços esticados, apontando para a saída, e uma expressão bem fria e seca em seu rosto. Nada mais dizia.

* Acompanhou os passos da elfa sem mais nada dizer. A situação parecia mais um dos jogos, que já estava acostumado. Aos poucos aproveitava para analisar a situação e o lugar, com uma expressão vazia, principalmente no olhar.

   E o semblante não se alterou, mesmo quando deixou apenas a vestimenta preta cobrir seu corpo ou quando se aproximou: alguma coisa não estava bem, pois não eram reações naturais ou esperadas.

  Voltaire se recusou a acatar a ordem para deixar o local. Ao contrário disto, os passos a seguir colocava-o as costas da elfa.

   - Não se trata de mais uma ameaça corriqueira ao reino Dumai. Não tem haver com a coroa Deskraussiana, ou com a corrupção de Sarevok, ou a ameaça de Halesstryx, Serhaza, Daimonius e tantos outros que poderia enumerar..... Trata-se de algo..... Muito, muito pior....

 *Ficou em silêncio por algum tempo. Suava frio, perdido em lembranças, temores e experiências que havia apreciado a contragosto. *

  - Ninguém vai estar a salvo, ninguém mesmo que estiver em sua rota de destruição. Não vim oferecer flores ou recompensas, mas a possibilidade de nos auxiliar contra uma das mais sérias ameaças a este reino nestes últimos trinta anos. Realmente, não tenho nada de valor material a oferecer que possa vos dar. Mas apenas peço para que venha comigo, até o mosteiro, ouça o que tenho a dizer e depois, se assim quiser, poderá se juntar a nós ou mesmo partir, sem a necessidade de apontar dedos ou direções, até mesmo porque sabes vir e ir quando bem quiser...

*Voltou a encará-la. O olhar estava perdido, sem rumo, titubeava....  Ao menos se esforçava para levar muito a sério a situação, realizando previsões mentais assustadoras, a julgar por sua maneira de agir perante os fatos.*

No decorrer do discurso de Voltaire, a elfa parecia não mudar seu estado calmo e frio. Abaixava o braço, e virava-se, ficando agora de frente para ele, e pacientemente esperava que ele terminasse de falar. Ao final, suspira, como se nada do que ele dissesse preocupasse seus pensamentos, e murmura.

- O Culto do Dragão, Sammaster, Xortan’Reg e seus discípulos dragões liches, exércitos de mortos-vivos... Razen, Alistaire, cidades inteiras transformadas em cinzas. O Tesouro Secreto... – Ela pausa, focada em seu olhar – Razel.

Como Dumai sempre obteve as suas informações, nem sua filha sabia ao certo. Não é à toa que recebeu o título de braço direito de Serhaza e Daimonius por tantos anos. E parece que, dos tempos antigos, também retornou com sua indiferença perante a salvação de inocentes.

- Espero que desta vez escute muito bem o que vou lhe dizer: Não me interessam suas preocupações. Sequer chegarei perto daquele Mosteiro ou da Cidadela novamente.

Ela então vai até a porta de saída de sua casa, e a atravessa, ficando do lado de fora. Seu semblante já estava mais sério, e agora ela o encarava.

- Agora, retire-se do meu recinto, e passe o resto de seus dias como melhor lhe convir.

*Não mudou a expressão. Não acompanhou os passos de Dumai em um primeiro momento, mas a teria ouvido muito bem. Permaneceu naquela posição por pouco mais de um minuto. Algumas coisas não precisavam ser mencionadas. Outras tantas deveriam ser silenciadas. Contudo, muita coisa pairava na ponta da língua. Balançou negativamente e quase que pausadamente a própria cabeça, suprimindo as próprias conjecturas. De costas mesmo disse, com tom normal de voz*

   - Tudo bem. A decisão é tua mesmo. Não irei continuar a importunar. Farei como desejar, mas confesso que uma coisa aqui me surpreendeu: até mesmo Lei se importou com a filha. Causa-me estranheza que teu coração esteja tão duro ao ponto de ignorar este detalhe.

*     Caminhou para fora do recinto de maneira tranquila e altiva, não deixando de lançar outras palavras:*

  - Caso mude de ideia sabe muito bem onde nos encontrar. Será muito bem recebida e ainda és bem-vinda.  Por fim, obrigado por ao menos me receber... Dumai.....

*Esperou por educação que ela falasse alguma coisa se assim o desejasse. Pensou em mencionar mais alguma coisa, mas ao observar melhor a elfa, não o fez. Por um momento deixou escapar uma expressão de tristeza, algo que logo se desfez. De qualquer forma se Dumai nada mais fizesse ou dissesse Voltaire deixaria o lugar, como ela tanto desejava.*