O Punho de Gelo - Introdução de Ice (Encerrado)

[Resumo: O repórter do Diário do Lago, Theodore Lung, vai até a estrutura recém surgida nos arredores de Altonia e entrevista o líder do local, Sr. Ice.]



O Diário do Lago, o periódico de maior circulação de todo o continente, tinha informantes em todos os cantos. Quando algo novo acontecia, a informação chegava até o Diário de alguma maneira e era repassada em seguida a todos aqueles que obtiam uma cópia da publicação.

Era com entusiasmo, portanto, que o Diário recebera o relato de que havia uma estrutura nova erguida ao leste de Altonia. Ninguém ainda sabia quem havia construído aquilo e nem quando, já que a primeira informação veio de um comerciante que havia errado o caminho para a entrada de Altonia há meses atrás. A direção do periódico tratou de investigar a questão imediatamente enviando seu mais intrépido repórter, Theodore Lung.



A carruagem saiu de Lagus e rumou para a região apontada pelos relatos. Após dias de viagem, quando já estavam há alguns quilômetros da nova construção, o dia ensolarado e sem nuvens bruscamente deu lugar ao clima frio. A neve repentina tornou tudo branco e a temperatura caiu vertiginosamente. Por sorte, o cocheiro tinha algumas peles na parte de trás de sua carruagem, o que impediu Theodore de ficar completamente desprotegido. O Diário não tinha soldados e nem escolta, não eram uma organização militar. Caso a situação fosse perigosa, os repórteres tinham a ordem de irem embora imediatamente. Mas alguns, como Theodore, se arriscavam para conseguir todas as informações.

O repórter seguia pelo frio, ou seja, tomando o caminho onde a temperatura era mais baixa, esperando encontrar a fonte daquele fenômeno. Mandou o cocheiro aguardar a cerca de um quilômetro do que ele esperava ser a nova construção, e disse ao homem para fugir caso ficasse frio demais ou se houvesse algum perigo. A visibilidade era baixa, mas Theodore seguiu em frente, esperando entrar em contato com alguém ou alguma coisa.

A Fortaleza tinha o tamanho de uma cidade pequena, aproximadamente. Conforme o intrépido jornalista se aproximava, podia ver que a construção era feita efetivamente de pedras lisas, unidas por barro e gelo combinados. Não parecia hostil, muito menos convidativa. Era prática. Sem adornos, sem enfeites. Ao andar mais, podia sentir a neve afofar sob seus pés e o chão sumir, levando-o a um buraco que o levaria escorregando pelas paredes lisas pelo gelo que encobria, apenas para cair dentro de uma cela, cuja porta traseira não fecharia. Algum soldado teria de reativar aquela armadilha provavelmente.

Mesmo assim, onde o jovem terminou de ser "recebido" foi suficiente macio para que não se machucasse. Um homem, ouvindo a sineta que tocava pelo sistema de cordas e roldanas correu até ali.

- Peguei! Peguei! Agora ao jan...

Um homenzinho meio franzino, em roupas de pele que davam a ele um porte notoriamente maior que merecia, aproximou-se da cela com uma tocha de fogo frio, tremulando numa cor branca.

- Mas você não é um urso polar... Só é gordo...

Theodore caiu como um saco de batata no chão da cela. Não era um guerreiro, estava longe disso, e seus reflexos eram ridículos. Na verdade caiu de mau jeito e seu pulso começou a doer, mas não parecia quebrado. Sua bolsa de couro se abriu com o impacto e dela voaram vários objetos, incluindo seu livro de anotações, um pequeno tubo com penas e um tinteiro portátil. Antes que entendesse onde estava, ele ouviu o que o homenzinho disse e respondeu imediatamente, ofegante:

- Meu bom homem, posso estar um pouco fora de forma, mas lhe garanto que não sou um urso polar! Aliás, não encontrará muitos aqui, a menos que eles tenham vindo com você de outro lugar! Meu nome é Theodore Lung, do Diário do Lago! Eu apenas quero falar com o responsável por este local! Seria o senhor?

- Ah droga! E eu achando que vou achar ursos polares aqui! Que seja. Você quer falar com o chefe? Bem, eu preciso ver essas coisinhas aqui antes...

O homenzinho pegou as coisas que haviam caído fora da sela, inclusive o diário dele e começou a folhear.

- Informações de toda sorte. Ihihihihi! Peguei um espião! Vou falar com o chefe. Ele vai querer falar com você pessoalmente!

E, sem dar tempo de resposta, saiu correndo pelas paredes, teto. Parecia tudo, menos mentalmente estável. E em horas, a porta se abriu, deixando uma névoa entrar e o doido pulando na frente.

- Aqui chefe! O espião! O espião! O espi...

A figura se fez visível, trajando peles pesadas de urso negro, sem a cabeça, revelando o rosto quadrado de cabelos brancos. E, de dentro da manta, um antebraço de gelo com a mão terminada em dedos com garras abraçou o rosto do franzino insano.

- Eu já ouvi da primeira vez, Sandini...

Theodore esticou a mão e tentou pegar seu caderno de volta, mas já era tarde demais:

- Ei, espere! Devolva-me isto! Contém meus relatos íntimos, quero dizer, meus relatos profissionais! Isso é um desrespeito à minha profissão! Exijo uma retratação do regente deste lugar imediatamente! Volte aqui! - E ficou esbravejando atrás das grades de forma inútil, já que o homenzinho saiu sem dar bola. Theodore sentou-se no interior na cela amaldiçoando mentalmente o momento em que ele aceitou cobrir este caso. Horas depois, quando a porta se abriu novamente, o repórter apertou o casaco de pele com mais força, sentindo ainda mais frio. A mera presença do homem misterioso fez a temperatura do recinto descer ainda mais. Ele se levantou, fitando o homem, e tratou de esclarecer o mal entendido:

- Milorde, não acredite neste homem! Eu não sou um espião! Meu nome é Theodore Lung, sou apenas um funcionário do Diário do Lago e fui enviado até aqui para investigar este lugar estranho, que, segundo relatos, surgiu repentinamente nestas comarcas! Por favor, não me machuque, milorde!

- Eu li seu diário, então faça silêncio, senhor Long. Não gosto de falação.

E arremessou o doido para trás, quase na porta.

- Suba e prepare a sala do conselho. Eu já vi este "jornal", pois não faz pouco que vim parar aqui. E, se quiser informações, terá. Mas as que eu estiver disposto a dar. Se insistir em perguntas infrutíferas, decidirei uma nova atitude em relação a ti. Por ora, tens minha atenção...

E usou dos poderes gélidos para fazer uma chave em pleno ar, usando para abrir a cela

- Pode sair

Theodore observou, impressionado, enquanto o homem à sua frente criava um objeto de gelo sem nenhum esforço. O repórter então saiu da cela e rapidamente pegou seus pertences espalhados no chão, colocando-os de volta em sua bolsa de couro, e respondeu ao homem:

- Certamente, senhor, não precisa responder nada que não quiser. Se já leu uma de nossas publicações, então já deve saber que o Diário do Lago é uma instituição séria e que respeita seus entrevistados! Preciso apenas de uma mesa e do meu caderno de volta, naturalmente. Como devo chamá-lo, milorde? - Perguntou enquanto o seguia, caso ele começasse a caminhar.

Estendeu o caderno a ele, a capa danificado pelo congelamento parcial, mas as páginas inteiras

- Aqui. E me chamo Ice Deadpeople. Mas me trate por Ice...

Não tinha um tom amistoso, tampouco hostil. Apenas era muito severo. Por ali, a regra era o uso de peles e roupas pesadas. As armas variavam com toda a sorte. Não havia uma decoração realmente, exceto marcações específicas, para deixar claro onde se estava. Como a fortaleza era imensa, se perder ali dentro não era difícil. Chamas de fogo frio tremulavam, brilhando branco e dando boa visibilidade. Quando chegaram na sala de reunião, um salão quadrado mas com cadeiras de gelo encobertas por pele, circundavam uma mesa de madeira. Indicou uma delas para que se sentasse e se sentou em outra, virando-se a ele e se recostando.

- Precisas de uma tinteiro?

Theodore ia seguindo o homem misterioso através dos corredores da fortaleza em silêncio e reparando em cada detalhe. Assim que chegaram na sala quadrada, o repórter sentou-se sobre a cadeira indicada e colocou sua bolsa de couro sobre a mesa, pegando os materiais necessários. Ele pegou o próprio tinteiro e respondeu:

- Não será necessário, senhor, eu tenho o m... - E foi quando tentou molhar a pena e percebeu que a tinta havia congelado dentro do frasco. Ele deu um sorriso amarelo e disse: - Hã, bem... Se tiver um disponível, eu agradeceria imensamente. - Caso o tinteiro fosse providenciado, Theodore molharia a pena e a levaria até uma das páginas do caderno com capa de couro. Sua mão tremia violentamente e as primeiras linhas seriam um garrancho. Então ele prosseguiu:

- Muito bem, Senhor Ice. Posso chamá-lo desta forma? A habilidade do seu criado de andar pelas paredes é impressionante, mas a sua é simplesmente espetacular. Saiba, Sr. Ice, que as cópias do Diário do Lago são distribuídas em todo o continente. Portanto, você tem a chance de falar para milhares de pessoas, para que elas o conheçam melhor. Quero começar com as perguntas básicas. De onde você veio? Não havia nenhum vestígio deste lugar a meros meses atrás.

Ele parecia não ter muita paciência com todo o falatório, respirando pesadamente e soltando uma pequena névoa de água condensada da respiração conforme ele falava até ele finalmente chegar na pergunta. De fato, não parecia, nem de longe, o tipo de pessoa para "papo-furado".

- Eu venho do continente de Arton, não sei se nesse plano de existência. Próxima pergunta...

Theodore rabiscou algo rapidamente em seu caderno e então prosseguiu:

- Arton... Muito bem. E qual é o motivo de sua vinda, Sr. Ice? As últimas figuras que apareceram neste continente tinham objetivos bem claros. Veja Linda Morte, por exemplo, que foi entrevistada por um de nossos correspondentes. Ela declarou abertamente que busca seguidores para benefício próprio e provavelmente pretende dominar outros reinos. Nós, naturalmente, não fizemos nada. O Diário não é uma organização militar e não defende nenhum lado. Tentamos sempre ser o mais imparcial possível. Então, o que busca neste continente, milorde?

- Primeiro: Eu vim parar por acidente aqui. Segundo: Busco o que sempre busquei. Equilíbrio.

Ice não era alguém de muitas palavras. Olhou o homenzinho e seu falatório, filtrando o que ele dizia. Quando soube que Linda Morte era de Arton, manteve aquela expressão gélida e cérea, como se não a conhecesse.

[OFF: Talvez minha ação tenha ficado confusa, mas Linda Morte não é de Arton.]

Theodore fez novos rabiscos no caderno, parecendo escrever mais coisas do que Ice de fato falou. Então voltou a fitar o lorde gelado e prosseguiu:

- Equilíbrio? Que tipo de equilíbrio estamos falando? E como será sua conduta em relação aos outros reinos? Abrirá suas portas para as rotas de comércio, aceitará novos moradores? O povo destas comarcas quer saber, Sr. Ice! - Repórteres serão repórteres, em qualquer lugar e em qualquer situação.

- O senhor pergunta demais, senhor Long...

Pareceu realmente não gostar daquele jeito de falar, principalmente ao se ajeitar e não fazer mais questão de ocultar o membro gelado

- Eu vou responder uma por vez. Sem luz, não há sombra. Sem calor, não há frio. Sempre que a balança pender, eu e minha ordem iremos agir para evitar isto e restaurar a ordem das coisas. Quanto a aceitar novos moradores, se a pessoa passar meus testes, estará autorizada a ingressar na minha armada. E minha postura com relação a outros reinos é bem óbvia.

Theodore anotou coisas por um tempo um pouco maior depois que Ice terminou de falar. Quando a pena parou de se mexer, o repórter deu-se por satisfeito. Fez um ponto final na folha com orgulho e sorriu, fitando o lorde gelado:

- Bem, acho que isso é tudo por enquanto, Sr. Ice! Agradeço muito por ter me recebido em sua casa. A entrada não foi como eu esperava, mas acho que poderei entrar pela porta da frente de agora em diante, certo? - Theodore esperaria alguns momentos para que a tinta secasse, mas, naquele ambiente, não precisaria esperar muito. Complementou:

- As cópias com esta entrevista começarão a circular dentro de um ou dois meses, aproximadamente. Eu mandarei alguém trazer uma cópia para o senhor, sem custos adicionais! - E começou a se levantar da cadeira.

No instante que fez a menção em se levantar, correntes de gelo saíram da cadeira, o prendendo nela de imediato

- Errado. Eu quero ver suas anotações. Saber o que vai passar a respeito da ordem do Punho de Gelo, e garantir que todas as suas informações obedeçam criteriosamente meu crivo pessoal. Não se preocupe, pois sua notícia está garantida. Apenas preciso garantir que minha ordem, ainda jovem, continue existindo. Agora, o caderno...


E estendeu a mão humana para ele devolver o caderno

Theodore se assustou e soltou um grito quando as correntes de gelo o prenderam na cadeira. Ele realmente não esperava por aquilo. Respondeu de forma apressada, ofegante:

- Está bem, está bem! Pode ler o que escrevi! Sr. Ice, eu nunca escreveria nada para denegrir a sua imagem ou de sua ordem! O Diário do Lago não quer criar conflito com ninguém! Queremos apenas registrar os eventos da história enquanto ela acontece! - E Ice pegaria o caderno de qualquer forma, já que Theodore sequer conseguiria mexer os braços.

O texto presente na folha foi feito em língua comum e com escrita rápida, de forma que várias palavras estavam abreviadas e outras pareciam códigos ou referências que só Theodore entenderia. Mesmo assim, Ice conseguiria compreender o que ele havia anotado. As informações principais eram de que Ice veio de Arton, sua postura de equilíbrio em relação aos reinos e o fato de exigir testes para aqueles que desejavam se juntar a ele. Não havia nada comprometedor nas anotações, mas ficava claro que Theodore produziria um texto com aquilo para a edição final.

Ice mantinha-se inexpressivo enquanto lia o texto calmamente. Segundos que talvez parecessem horas, mas ainda assim segundos.

- Senhor Lung... Eu irei obter cópias de outras cidades, mas diretamente delas, não do senhor ou dos seus. Caso eu veja quaisquer informações acerca do Punho de Gelo que possam ser usadas contra nós no campo de batalha, o senhor entenderá o que é congelar até os ossos. Entretanto, na hipótese oposta, será recebido de portões, e não alçapões, abertos como visitante.

A figura de Ice ainda era de um homem em vestes pesadas, ironicamente sem armadura de placas, apenas algo de couro envolvido em pele.

- Agora levante... - disse enquanto as correntes se soltavam e voltavam a integrar a cadeira de gelo - E iremos alimentar o senhor para que possa seguir sua viagem em paz...

Assim que ficou livre, Theodore juntou suas coisas rapidamente, quase jogando os objetos dentro da bolsa de couro, e se afastou da mesa rapidamente enquanto o ouvia. Assentiu com a cabeça, respondendo:

- Mas é claro, milorde! O senhor e sua ordem ficarão muito bem em meu texto, eu posso lhe garantir! O senhor verá filas de pessoas batendo à sua porta para realizar seus testes! Agradeço muito pela refeição, milorde. Todo esse frio dá muita fome. - Deu uma risada sem jeito, mas, no fundo de sua mente, imaginava que tipo de comida havia ali. Será que o homem faria Theodore comer pedras de gelo ou algo do gênero?